quarta-feira, 31 de julho de 2019


TOSHIKO AKIYOSHI, COMPOSITORA DE JAZZ E ATIVISTA DE CAUSAS AMBIENTAIS

O desastre ambiental de Mariana, em Minas Gerais, completou três anos em 2019. A seguir um outro, semelhante, e ainda de maiores proporções, assolou o mesmo Estado do Brasil. Agora é, portanto, importante e oportuno relembrar um desastre ambiental, de 1953, que abalou o Japão, e a maneira como ele se tornou inesquecível através da música.

A compositora Toshiko Akiyoshi nasceu em 1929. Estudou no Japão e na Berklee  College of Music, em Boston. Depois de se apresentar em orquestras sinfônicas como solista de piano, Toshiko se encaminhou para o terreno do jazz e nele obteve grande sucesso. Casou-se em 1959 com Charles Mariano, saxofonista, com quem teve a filha Michiru, e formou o Quarteto Toshiko-Mariano. Divorciada, formou com o segundo marido a Toshiko Akiyoshi-Lew Tabackin Big Band. Sempre muito elogiada, atuou como jazzista desde 1952. Tocou com Charles Mingus, compôs trilha sonora para o filme sueco The Platform 1964 e no mesmo ano participou do World Jazz Festival, apresentando a batida 5/4 ao piano. Teve seu mérito reconhecido em 1984, por exemplo, ao ganhar o Ten Women of the Year (data não identificada) e o prêmio Down Beat como arranjadora e compositora de Big Band4. Esteve no Brasil nesse mesmo ano.

No decurso de sua vida, a pianista e compositora se destacou, indiretamente, mas com muita força, como ativista. O primeiro vinil da Toshiko Akiyoshi-Lew Tabackin Big Band foi Kogun, lançado primeiro no Japão e depois nos Estados Unidos. É dedicado ao soldado japonês encontrado numa ilha do Pacífico, escondido nas selvas, depois do fim da 2ª Guerra Mundial. Este LP tem como faixa-título Kogun, que significa ‘aquele que luta sozinho’, conforme nos esclarece Luiz Orlando Carneiro, em seu livro Elas Também Tocam Jazz.  A trilha de Kogun mistura sons japoneses arcaicos com sons jazzísticos. Esse soldado – personagem do filme, em solidão absoluta, se manteve de prontidão para continuar a lutar. Aqui a compositora relembra a fidelidade do povo japonês à pátria e ao Imperador, não aceitando o resultado final da 2ª Guerra.

Em 1999, Kyudo Nakagawa, monge budista, pediu a ela que escrevesse uma peça sobre Hiroshima. Para que conhecesse de perto o que foi esse acontecimento, enviou-lhe fotos sobre o pós-lançamento da bomba nuclear. Ela ficou horrorizada. E manteve esse estado de puro terror até o momento em que viu, em uma foto, uma jovem que saía, de um abrigo subterrâneo, com um sorriso. E compreendeu o que significou aquele sorriso, para a jovem, em 1945, e para ela, 54 anos depois: uma mensagem de esperança. E assim surgiu Hiroshima: Rising from the Abyss (Hiroshima: levantando-se do abismo). A música estreou em Hiroshima em 6 de agosto de 2001, 56º aniversário do lançamento da bomba na cidade japonesa, que marcou o fim da 2ª Guerra Mundial. O álbum Hiroshima: Rising from the Abyss foi lançado em 2002.

Já a Suíte Minamata, que dura 21’ 37”, é gravação do LP Insights, de 1976. Esta obra lembra – e não nos deixa esquecer – o desastre ambiental ocorrido numa pequena aldeia de pescadores do Japão, em 1953. Devido ao lançamento de mercúrio no mar, desde a fundação da fábrica Minamata, nos anos trinta, os peixes foram ficando envenenados e transmitiram esse envenenamento às pessoas e animais que os ingeriam. A Suíte Minamata tem três partes: Peaceful Village, Prosperity & Consequence, Epilogue. A peça começa com um vocalise feito por Michiru Mariano, filha da compositora. Depois do brilhantismo dos sopros da Big Band, os Suzumi, tambores rituais do Japão, são integrados a efeitos vocais de um artista Nô, Hisao Kanze. A voz do artista se soma a séries de acordes produzidos pela orquestra e finalizam a suíte com intensa dramaticidade.

Entre os vários dicionários de compositoras surgidos a partir dos anos oitenta, dois incluíram o nome desta pianista e compositora: International Encyclopedia of Women Composers, do sul-africano Aaron Cohen (1981), e Mulheres Compositoras – Elenco e Repertório (1987), de minha autoria. O perfil dos dois livros se assemelha um pouco, na medida em que ambos extrapolam o campo erudito e didático, que são os únicos nos demais livros, e informam sobre compositoras de outros gêneros musicais. Neste caso, o jazz.

Em dezembro deste ano, 2019, Toshiko Akiyoshi completará noventa anos.  

Mais informações sobre a pianista, arranjadora e compositora ativista Toshiko Akiyoshi, sua carreira, discografia e prêmios podem ser encontradas em https://wikipedia.org/wiki/ToshikoAkiyoshi
Quanto ao desastre ambiental, procure Minamata - nome do próprio local, ou Doença dos Gatos Dançantes (animais com desordens neurológicas causadas pelo mercúrio), e Mal de Minamata.

OS DESASTRES AMBIENTAIS E AS SEQÜELAS QUE GERAM JAMAIS DEVEM SER ESQUECIDOS

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