sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MULHERES COMPOSITORAS – Um CD pianístico de primeira classe

Pode parecer vaidade de minha parte. Talvez até seja; mas não vaidade, no mau sentido, senão aquele justo orgulho de quem vê o esforço de muitos, por tanto tempo, ser coroado. Talvez não seja o primeiro CD brasileiro com obras de mulheres compositoras. Não é. Nem é a primeira vez que as obras delas – digo, nossas – recebem um tratamento VIP. Mas é a primeira vez que as obras das brasileiras, que não de música popular, recebem, em nosso país, amostragem tão representativa, em um repertório de tanta qualidade.
O lançamento do CD Mulheres Compositoras – França - Brasil (Femmes Compositrices France - Brésil), foi no dia 3 p. p., na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos. A par da notável interpretação, tanto da pianista Sylvia Maltese, que tocou as obras para piano solo, quanto do Duo Tarditi-Maltese, que realizou as peças para quatro mãos, destacou-se o bom senso na escolha e na distribuição das peças.
A música “erudita” predomina no CD, secundada por gêneros similares, como as de salão (ou quase), e as didáticas, de piano a quatro mãos. E, aqui e ali, pontilha a brejeirice do choro: um antigo, da onipresente Chiquinha Gonzaga; um atual, de Silvânia Barros.
Os brasileiros podem se orgulhar: nos ombreamos com as francesas, em muitos aspectos.
Consagradas - ou antigas, mas só agora redescobertas - as compositoras brasileiras e as francesas têm muitos pontos em comum. E não me refiro só à estilística, ou a adesão às escolas vigentes na época em que vivem ou viveram. Mas principalmente ao fato de não encontrarem intérpretes, nem espaço para mostrar suas obras. Apesar da França ter sido um pólo cultural por tanto tempo, as francesas nem sempre ocuparam o merecido lugar de destaque. Talvez com exceção de uma ou outra, como Lili Boulanger (1893-1918), internacionalmente reconhecida como gênio.
O piano é o instrumento mais valorizado no mundo ocidental, e com certeza o que mais repertório possui. Todavia, é o que mais sofre com a síndrome de uma doença do gosto musical, a compulsão de repetição, como apontam inúmeros estudiosos. O público, sugestionável, é o mais manipulado pela mídia. Os professores em geral são conservadores. E os talentos musicais interpretativos raramente são estimulados ao saudável exercício de procurar novos caminhos e experimentar novas linguagens. Além disso, uma censura manifestada pela sociedade e dissimulada em indiferença, poda as iniciativas nesse sentido. Em verdade, esconde a incapacidade de adaptar os ouvidos a novas linguagens ou a obras, de linguagem tradicional, que não as já consagradas.
Portanto, tenho certeza de que todos os que ousam procurar novos caminhos, como estas duas ótimas pianistas, são mais competentes que a média. E que todos que as ouvirem com atenção e buscarem compreender as músicas deste CD, estão igualmente em um patamar superior de sensibilidade, usufruindo plenamente a capacidade de avaliar o “novo”, mesmo que seja um “novo” de 100 anos, que ainda não foi gravado...

MULHERES COMPOSITORAS FRANÇA – BRASIL (Femmes Compositrices France – Brésil)
Sylvia Maltese, piano solo
Duo Tarditi-Maltese (Paola Tarditi e Sylvia Maltese), piano a quatro mãos

Disponível para aquisição na Livraria Cultura e através da Revista Concerto