Nascidas na mesma época, mas em
países e continentes diferentes, a estadunidense Carrie Jacobs-Bond
(1862-1946); a francesa Helen Guy (1858-1936), que com o pseudônimo Guy
d’Hardelot trouxe a público suas composições, e a inglesa Amy Woodforde-Finden
(1860-1919), compuseram canções que ainda hoje são ouvidas e apreciadas.
Tiveram histórias pessoais
muito diferentes: Carrie Jacobs-Bond começou a publicar suas obras em 1894, e
quando morreu o segundo marido, criou uma editora e passou a se dedicar à vida
artística. O barítono David Bispham realizou em 1901 um recital só de obras
dela, e no mesmo ano seu grande sucesso, I
Love you truly, vendeu cerca de um milhão de cópias da partitura. Em 1910, A perfect Day vendeu oito milhões de
cópias da partitura e cerca de cinco milhões de gravações. Lembremos que, mesmo
nos Estados Unidos, a indústria fonográfica ainda estava começando nessa época.
Helen Guy é ainda hoje mais
conhecida como Guy d’Hardelot – Hardelot era o nome do castelo onde nasceu, na
França. Aos 15 anos foi para Paris, onde estudou música e, antes dos vinte anos,
começou a fazer sucesso com a canção Sans
toi, com texto de Victor Hugo. Entre os intérpretes que lançaram suas
canções estão a australiana Nellie Melba, soprano (1861-1931), o barítono
francês Victor Maurel (1848-1923) e o baixo francês Pol Plançon (1854-1914).
Com a famosa Emma Calvé, soprano francesa (1858-1942), atuou como pianista
acompanhadora em recitais nos Estados Unidos. Casou-se com um inglês e foi
morar em Londres, onde sua canção Because,
com texto de Edward Teschemacher, de 1902, permaneceu por muito tempo nos
programas de recitais.
Amy Woodforde-Finden, que
nasceu no Chile, onde seu pai atuava no consulado inglês, começou a compor
muito cedo, mas suas primeiras obras passaram despercebidas. Em 1893 casou-se com um médico-coronel
inglês, e, morando na Índia, escreveu em 1902 Four Indian Love Lyrics, com texto de Laurence Hope (pseudônimo de
Adela Florence Nicholson, 1865-1904). Novamente não teve sucesso e ela mesma as
editou. Mas, apresentadas pelo cantor Hamilton Earle, estas canções obtiveram
grande sucesso e foram publicadas pela Boosey & Co. Compôs ainda outras
canções, muitas relembrando seus tempos no Chile, mas seu maior sucesso foi
sempre Kashmiri Love Song, ou Pale hands I Love, como também é
conhecida, nr. 3 do ciclo mencionado.
I
Love you truly, de Carrie Jacobs-Bond, pode ser ouvida no YouTube
por pelo menos 15 diferentes intérpretes, de diferentes épocas. Aparece também em
dois diferentes filmes recentes, como Out
of the wedding, de 2007, e o famoso Titanic,
neste cantada por Elsie Baker em gravação de 1912, ano em que ocorre o
naufrágio. Nelson Eddy, famoso barítono americano, estudou canto com David
Bispham, que lançou esta canção. Eddy a interpreta em duo tanto com Jeanette
MacDonald, sua parceira mais frequente, como com Jo Stafford.
Because, de
Guy d’Hardelot, aparece no YouTube em 20 gravações, cantada em inglês, francês,
sueco e espanhol, e ainda em solo de piano por Phillip Sear. Enrico Caruso, Mario Lanza, novamente
Nelson Eddy, Kathryn Grayson, e os atuais Jose Carreras e Andrea Bocelli, todos
podem ser ouvidos em diferentes interpretações e em seus variados timbres.
Perry Como, em gravação de 1947, canta de forma não operística e teatral, mas
como se canta a música popular.
Kashmiri
Love Song, de Amy Woodforde-Finden, também é prestigiada por vinte
gravações, algumas bem recentes. De forma instrumental, Stephen Hough
interpreta a versão pianística da própria autora; Carmen Dragon rege a Capitol
Symphonic Orchestra, e Julian Lloyd Weber e John Lanehan a tocam ao violoncelo
acompanhado de piano. Ela é cantada em inglês por Rodolpho Valentino, mito do
cinema, em gravação de 1923. Às vezes os cantores são acompanhados por piano, e
às vezes por orquestra. Nelson Eddy e Peter Dawson cantam as quatro canções do
ciclo, não apenas a mais famosa.
As três compositoras são
contemporâneas de Chiquinha Gonzaga (1847-1935). Note-se que algumas das peças
de Chiquinha que ainda permanecem no repertório são mais ou menos da mesma
época. Com exceção da marcha Ô abre-alas,
que é carnavalesca, ou o batuque Corta-Jaca,
música de dança de influência africana, muitas de suas obras que ainda são
relembradas apresentam o mesmo caráter, sentimental e dramático, daquelas
canções. Por exemplo, Lua Branca. Influência,
talvez, um pouco da ópera e muito da opereta, gêneros muito cultivados no
decurso da vida de todas estas compositoras.