Com uma carreira em que predomina a atuação como pianista,
não surpreende que Maria Apparecida Côrtes Macedo tenha escrito um concerto
para seu instrumento. Inicialmente intitulada Fantasia, a peça estreou em
formação camerística em 1980, com regência de Tonyan Khallyabby frente à
Camerata Musicamara, da qual era pianista oficial.
Grande parte da obra desta compositora é para piano, ou para
canto e piano, e vem sendo apresentada e gravada regularmente em São Paulo.
Também no campo da música popular obteve prêmios em concursos no interior de
São Paulo.
O Concerto para Piano e Orquestra, apresentado no dia 25 de
janeiro, em celebração pelo aniversário da cidade de São Paulo, já havia estreado,
na forma Concerto, em dezembro de 2015, no Teatro Cacilda Becker, em São
Bernardo do Campo. Nesta apresentação o
pianista foi José Mauro Peixoto e o regente, Geraldo Olivieri, frente à
Orquestra Sinfônica de São Bernardo do Campo. Integrou o programa também o
Réquiem de Gabriel Fauré, compositor do impressionismo francês.
Na apresentação de 25 de janeiro tivemos oportunidade de
assistir, com o Teatro São Pedro repleto de público vibrante e entusiasta, que
aplaudiu de pé, o Concerto para Piano e Orquestra de Maria Apparecida. Esta
obra dividiu o palco com a Abertura Trágica op. 81, de Johannes Brahms, e com o
Concerto para Quatro Trompas op. 86, de Robert Schumann, dois dos grandes
representantes do romantismo alemão.
Este Concerto é em três movimentos: Andante, Adagio,
Allegro. Apresentado entre as duas obras, reconhecidas internacionalmente, o
Concerto mostrou um brilho muito especial – aquele brilho que acompanha a
própria imagem do Brasil. Exuberante sem exageros, com belíssimas melodias em
cada movimento, não utiliza os clichês que quase sempre estão presentes nas
peças nacionalistas: escalas e células rítmicas. O bom gosto em sua elaboração,
e a orquestração de Otávio Simões, equilibrada e sem redundância, fez desta
peça um retorno ao nosso ímpeto atávico de ser feliz, depois de tanto tempo em
que a música brasileira está alijada das salas de concerto. E os aplausos
duradouros e intensos comprovam que o público presente percebeu tudo isso – e
aprova incondicionalmente.
Merecem um chamado especial o jovem e excelente pianista
Renan Branco, graduado na classe de Amilcar Zani, na USP, em 2014. E o
brilhante regente André dos Santos, assistente de Luiz Fernando Malheiro, com
excelente currículo nacional e internacional. Também a Orquestra do Teatro São
Pedro faz jus a elogios, com sua precisão e clareza perfeitamente audível em
cada sonoridade.
Dentro do mesmo programa, os solistas Rafael Nascimento,
Eric Gomes, Lucca Soares e Vagner Rebouças, do Concerto para Quatro Trompas op.
86, de Robert Schumann, tocaram integrados e coerentes em sua interpretação,
entre si e com a orquestra. No arcabouço da obra de Schumann há uma rede sutil
de ilações harmônicas e interpretativas, que exigem dos intérpretes, da
orquestra e do regente, uma percepção aguda e muito equilíbrio, equilíbrio que
esteve presente nesta récita e que fechou a noite com tranqüilidade, depois do
emocionante trajeto colorido e brilhante do Concerto para Piano.
Esperamos que em breve a gravação destas obras esteja no YouTube, e esperamos mais ainda que
se mantenham no repertório desta e de outras orquestras.