Em tempos de violência, banalidades, falta de interesse pela boa música, este é um oásis de 71:04 minutos, onde, entre outras especificidades, das que caracterizam os verdadeiros artistas, está a presença de 4 compositoras. Como o CD tem 18 músicas, esta é uma proporção muito boa para a música erudita, gênero em que as mulheres ocupam uma parcela de apenas 10 % (ou menos) entre os compositores.
Valdilice prima por buscar linhas diferenciadas de interpretação. E foi com esse intuito que começou a se interessar e a tocar em público obras de mulheres compositoras. Desde 1991 vem trabalhando autoras de diversas nacionalidades, mas prestigiando sobretudo as brasileiras, que já divulgou em 3 países europeus.
A Valsa se revela, neste CD, na unidade e na diversidade das linhas estilísticas, na simplicidade ou na complexidade do procedimento composicional de cada autor. É todo em 3 tempos – o compasso da valsa – mas não é repetitivo. Compositores brasileiros consagrados, como, no passado, Henrique Oswald, Carlos Gomes, Custódio Fernandes Góes e Alberto Nepomuceno, e, no presente, Almeida Prado e Sérgio de Vasconcellos-Corrêa, estão ao lado do seresteiro Tristão Júnior e dos italianos, ligados ao Brasil, Gaetano Foschini e P. Nimac. Os dois russos, P. Tchaikovsky e V. Rebikov, somam sua inspiração à do polonês S. Moniuszko e à do tcheco Anton Dvorák. O francês Theodor Lack encerra com grande brilho o CD.
Mas, já que nosso tema principal são as Mulheres Compositoras, observamos que a Valsa Lenta op. 8, da cubana Cecilia Arizti (1856-1930), apresenta traços impressionistas não muito comuns entre os compositores de sua geração, que em geral tendem mais ao romantismo. A brasileira Dinah Menezes, carioca, estudou com Villa-Lobos e dele recebeu apoio. Dedicou parte de sua vida ao ensino de música para crianças, mas é compositora inspirada e sua Valsa Predileta faz sucesso sempre que apresentada em recitais.
Ignez Lepsch, que, como Tristão Júnior, é de Itu, cidade paulista de tradição musical respeitável, apresenta um traço que é comum entre as compositoras: fazer música em casa e em ambientes familiares. E isto, como temos verificado ao longo de nosso tempo de estudo de obras de Mulheres Compositoras, não diminui o mérito de seu trabalho, nem a qualidade final de sua composição Meus Filhos.
Finalmente, devo dizer que, cerca de 20 anos atrás, foi difícil convencer os intérpretes a tocar obras de Mulheres Compositoras. Então, em reconhecimento, comecei a dedicar obras aos que o fizeram. E Valdilice de Carvalho, a primeira pianista que se interessou pelo assunto, formando um programa de recital a partir das indicações de meu livro Mulheres Compositoras - Elenco e Repertório, recebeu a valsa Fim de filme como um agradecimento. E agora, agradeço novamente, pela bela leitura e interpretação inspirada com que fez a gravação para seu CD Em tempo de Valsa.
Nilcéia C. S. Baroncelli
P.S.: Em tempo de Valsa se encontra à venda na Livraria Cultura, na Livraria da Vila, em São Paulo, e através da Revista Concerto.
Em tempo de Valsa será comentado no programa Tema e Variações, apresentação do Maestro Júlio Medaglia, pela Radio Cultura – FM 103.3, sábado, 12.6.2010, às 11 horas da manhã.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
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