Vem dos tempos em que Oneyda Alvarenga e Clorinda Rosato cursavam o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo a amizade que desenvolveram com Mario de Andrade. Este era professor de piano de Oneyda Alvarenga, e de história da música de ambas. Clorinda Rosato estudou piano com o prof. Miguel Antonio Gallo.
Oneyda Alvarenga revelou sua aptidão literária desde os primeiros contatos com Mario de Andrade. E quando ela se aproximava da conclusão de seu curso, ele a orientou (em uma escala um pouco diferente dos cursos de pós-graduação da atualidade) na escrita de seu texto A linguagem musical. Este texto, que mais tarde seria um trunfo importante em sua indicação para a chefia da Discoteca Pública Municipal, vem sendo analisado, no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, pela doutoranda Luciana Barongeno, sob orientação da Profa. Dra. Flávia Toni.
O apoio e orientação que Mario de Andrade dedicou a Clorinda Rosato têm um caráter um pouco diferente. Segundo ela mesma me contou,um dia, estava tocando piano no Conservatório, e Mario se aproximou e perguntou que música era aquela.”Ora, uma brincadeira que eu mesma compus”, respondeu; ao que ele acrescentou: “Pois tem um pedal muito interessante”... A partir de então, e mesmo depois da conclusão do curso, ele continuou a apoiá-la em seu talento e vocação de compositora.
Um exemplo desse apoio está na Discoteca Oneyda Alvarenga, do Centro Cultural São Paulo. É uma narrativa que serve como apresentação da cópia xerográfica do manuscrito original do Noturno (à memória de Mario de Andrade), de Clorinda Rosato, tombada sob número P. 7873. O texto foi escrito por mim, à época Arquivista Artística da Divisão de Discoteca e Biblioteca de Música, nome que a antiga Discoteca Pública Municipal manteve enquanto constou do organograma do IDART, isto é, de 1975 a 1982. Como segue:
“PEQUENO HISTÓRICO DO NOTURNO – Esta é uma composição para piano, escrita em 1934. Nessa época Da. Clorinda estudava no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde era aluna de Mario de Andrade na classe de História da Música. / Sabendo do talento da aluna para a composição – ao qual dava todo incentivo – o professor pediu-lhe que escrevesse um ‘Noturno de expressão brasileira, com duração de três minutos’, para ser executado em recital em casa dele./ Da. Clorinda o escreveu no prazo de um mês./ A dedicatória à memória do professor deve ser bem posterior, pois o Noturno foi escrito em 1934 e o Prof. Mario de Andrade faleceu em 1945.
(As informações deste pequeno histórico foram fornecidas pela própria autora, exceto no que se refere ao ‘talento da aluna para a composição’, que é dedução nossa; modesta, Da. Clorinda jamais se refere ao seu talento) ”.
A obtenção da cópia do Noturno, de outras obras dela e mesmo um recital realizado por Clorinda Rosato em 3 de setembro de 1981 faziam parte de um projeto maior de reunião de depoimentos e obras de autores brasileiros, projeto este interrompido quando da mudança da Discoteca para o Centro Cultural São Paulo, em 1982. Em verdade, pudemos fazer muito pouco, do que estava previsto; mas mesmo este pouco serviu para que não se perca de todo a memória de muitos artistas talentosos, entre os quais Clorinda Rosato.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
O PIANO DE CHIQUINHA GONZAGA
Muitos anos atrás, o piano de Chiquinha Gonzaga estava na casa de uma sua descendente, Dona Alzira, em São Paulo. É o mesmo instrumento em que a compositora aparece, já idosa, numa conhecida foto.
Quando mudei para São Paulo, meu tio Donato, falecido há muitos anos, conhecia esta senhora. E me levou à sua residência para conhecê-la, com a finalidade de criar um círculo de amigos para mim.
Logo que chegamos, ela nos contou que o piano tinha sido da Maestrina, sua antepassada, e perguntou se eu conhecia sua obra. Ficou desapontada quando eu disse que não...
Dona Alzira, viúva, tinha dois filhos, um com cerca de vinte anos, o outro ainda adolescente. E nós três nos entendemos muito bem. Em torno do piano que havia sido de Chiquinha, improvisamos um sarau: o filho mais velho tocava guitarra, o mais novo – que tocava de ouvido – ou fazia duo comigo no piano, ou cantávamos... Tudo entremeado de muita alegria e surpresas, sobretudo quando inventávamos juntos alguma música, ou parodiávamos algum sucesso da época.
Novata na cidade, eu não sabia direito onde estava, e até hoje não sei ao certo qual era a localização do prédio. Os fragmentos de memória que consigo reunir me levam ao Edifício Sérgio, na esquina da Avenida Brigadeiro Luís Antonio com a Rua Humaitá, mas não tenho certeza.
Na época, prometi voltar para nos divertirmos mais um pouco. Mas, em seguida, meu tio ficou fora da cidade por algum tempo, e eu não sabia chegar ao apartamento de Dona Alzira. E logo depois as aulas na Faculdade começaram. A vida me levou para outro lado.
Uns dez anos depois daquela visita, ou um pouco mais, li nos jornais que o piano de Chiquinha Gonzaga estava à venda porque Dona Alzira ia se mudar para os Estados Unidos, acompanhando um dos filhos. E eu nunca soube o destino daquele piano...
Mas sempre mantive uma certa tristeza, por ter dito (com sinceridade) a eles que não conhecia nenhuma obra da Chiquinha. Na verdade, eu conhecia, sim; mas só descobri mais tarde.
Quando estava escrevendo o livro Mulheres Compositoras, encontrei na antologia Juvenília, dos Salesianos, a linha melódica e a letra da linda canção Luar na serra, de Chiquinha Gonzaga.
Luar na serra era uma das músicas que cantavam para eu dormir, quando era pequena.
Quando mudei para São Paulo, meu tio Donato, falecido há muitos anos, conhecia esta senhora. E me levou à sua residência para conhecê-la, com a finalidade de criar um círculo de amigos para mim.
Logo que chegamos, ela nos contou que o piano tinha sido da Maestrina, sua antepassada, e perguntou se eu conhecia sua obra. Ficou desapontada quando eu disse que não...
Dona Alzira, viúva, tinha dois filhos, um com cerca de vinte anos, o outro ainda adolescente. E nós três nos entendemos muito bem. Em torno do piano que havia sido de Chiquinha, improvisamos um sarau: o filho mais velho tocava guitarra, o mais novo – que tocava de ouvido – ou fazia duo comigo no piano, ou cantávamos... Tudo entremeado de muita alegria e surpresas, sobretudo quando inventávamos juntos alguma música, ou parodiávamos algum sucesso da época.
Novata na cidade, eu não sabia direito onde estava, e até hoje não sei ao certo qual era a localização do prédio. Os fragmentos de memória que consigo reunir me levam ao Edifício Sérgio, na esquina da Avenida Brigadeiro Luís Antonio com a Rua Humaitá, mas não tenho certeza.
Na época, prometi voltar para nos divertirmos mais um pouco. Mas, em seguida, meu tio ficou fora da cidade por algum tempo, e eu não sabia chegar ao apartamento de Dona Alzira. E logo depois as aulas na Faculdade começaram. A vida me levou para outro lado.
Uns dez anos depois daquela visita, ou um pouco mais, li nos jornais que o piano de Chiquinha Gonzaga estava à venda porque Dona Alzira ia se mudar para os Estados Unidos, acompanhando um dos filhos. E eu nunca soube o destino daquele piano...
Mas sempre mantive uma certa tristeza, por ter dito (com sinceridade) a eles que não conhecia nenhuma obra da Chiquinha. Na verdade, eu conhecia, sim; mas só descobri mais tarde.
Quando estava escrevendo o livro Mulheres Compositoras, encontrei na antologia Juvenília, dos Salesianos, a linha melódica e a letra da linda canção Luar na serra, de Chiquinha Gonzaga.
Luar na serra era uma das músicas que cantavam para eu dormir, quando era pequena.
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