São duas histórias de vida marcadas por algumas
coincidências: ambas nasceram em famílias de músicos, ambas viveram apenas 25
anos e ambas morreram durante guerras. Ambas obtiveram reconhecimento em vida:
Kaprálová regeu duas vezes uma obra de sua lavra, de grande envergadura
orquestral, em sua pátria e em Londres, grande centro europeu; Boulanger ganhou
aos 20 anos o Grand Prix de Rome, láurea importantíssima outorgada, por
concurso, aos compositores franceses. Lili Boulanger faleceu em 1918, no fim da Primeira
Guerra Mundial, e Vitezslava Kaprálová faleceu no início da Segunda Guerra.
Ambas tiveram problemas respiratórios e pulmonares, que as levaram a óbito.
O desenvolvimento musical de Vitezslava Kaprálová começou a
ser sistematizado aos 15 anos, quando entrou em 1930 no Conservatório de Brno,
sua cidade natal, onde estudou composição e regência. Seu trabalho de
graduação, em 1935, foi um Concerto para piano e orquestra que ela mesma regeu.
Em seguida foi a Praga, onde aperfeiçoou seus estudos nas mesmas matérias com
Vitezslav Novak e Václav Talich, durante dois anos. Em seguida, ganhou uma
bolsa de estudos do governo francês, e em Paris estudou regência com Charles
Munch e composição com seu compatriota, o renomado Bohuslav Martinu.
De 1937 a 1940 ela viveu dias felizes: ao se casar com Jirí
Mucha e ao reger sua obra Sinfonietta Militar, escrita aos 22 anos. Esta composição
foi apresentada em 1938 pela Orquestra Filarmônica Tcheca, regida por ela e, no
mesmo ano, pela Orquestra Sinfônica da BBC de Londres, na abertura do VI
Festival Internacional de Música Contemporânea. Teve oportunidade também, no
conturbado período que antecedeu a segunda grande guerra, de visitar sua pátria
e sua família.
Muito importante foi o tempo de estudo com Martinu, seu
mentor, com o qual desenvolveu uma amizade feliz. Essa amizade representou
inspiração para ambos, mestre e discípula. Alena Nemcová, que escreve sobre ela
no Boletim Noticias musicales de Praga (2–3, 1990), afirma que Vitezslava era
para o compositor tcheco “um símbolo da primavera, um grande sonho efêmero”.
Vitulka – como era chamada pelos mais íntimos – começou a
compor aos 9 anos, estimulada pelo pai, respeitado pedagogo, compositor e
pianista, Václav Kaprál. O número de
composições criadas durante sua vida tão curta chega a cinqüenta, e abrange
diversos gêneros e meios de expressão. Além das obras já citadas, criou a
Partita op. 2, para piano e orquestra de cordas, os Prelúdios de Abril, para
piano, e diversos ciclos de canções.
Devido à queda de Paris, Kaprálová deslocou-se para o sul da
França. Com as dificuldades do cenário de guerra, teve a tuberculose agravada e
faleceu em Montpellier no dia 16 de junho de 1940.