terça-feira, 26 de março de 2013

A DISCOTECA ONEYDA ALVARENGA E AS MULHERES COMPOSITORAS



Neste mês de março de 2013, em que vejo e sinto com alegria o reconhecimento de tantas mulheres compositoras, brasileiras ou estrangeiras, clássicas ou populares, creio que devo dar notícia da importância que a Discoteca Oneyda Alvarenga teve em minha pesquisa sobre esse tema. 

Essa pesquisa, que teve como resultado a edição do livro MULHERES COMPOSITORAS – ELENCO E REPERTÓRIO, escrito por mim e publicado em 1987 pelo convênio Roswitha Kempf Editores / Instituto Nacional do Livro, foi inteiramente realizada com o material da Discoteca Pública Municipal, nome que a entidade teve até 1975. Livros, discos, partituras, catálogos de autores e periódicos da Discoteca foram utilizados, e ainda contatos e catálogos de autores de outras entidades congêneres.

A Discoteca Pública Municipal foi criada em maio de 1935 por Mario de Andrade, para servir de subsídio para uma Rádio-Escola que não foi implantada, e na qual os concertos irradiados seriam acompanhados de comentários. Ela teve aceitação geral da população que, nessa época, apenas começava a vivenciar a experiência de ter acesso às gravações e  à radiofonia. Integrada em um sistema mais amplo, que constituía o Departamento de Cultura, a Discoteca foi mantida, enquanto as outras seções, que trabalhavam da mesma maneira articulada, foram sendo pouco a pouco minadas e terminaram por desaparecer.

Foi pelo selo da Discoteca que, na década de quarenta, muitos autores hoje consagrados tiveram oportunidade de ver suas obras gravadas. E as compositoras não foram excluídas: Clorinda Rosato e Dinorá de Carvalho foram  gravadas por Arnaldo Estrella; ambas receberam prêmios em concursos musicais organizados pelo Departamento e depois suas obras foram levadas a público no Teatro Municipal, principalmente pelo Coral Paulistano. Helza Cameu foi premiada com seu Quarteto de Cordas, que foi estreado pelo Quarteto de Cordas Municipal...

O mais importante, entretanto, é ver, no meio de todo este material de natureza diferente, uma unidade de pensamento  que Mario de Andrade e Oneyda Alvarenga tiveram, buscando de todas as maneiras dar subsídios a quem quisesse se aprofundar em um tema dentro do assunto música. Assim como eu mesma tive a oportunidade de levantar um grande elenco de compositoras de diversas nacionalidades, tanto eruditas quanto populares, ou de salão, ou de obras didáticas,e um repertório composto por elas, de mais de cinco mil abonamentos, muitas outras pessoas também tiveram oportunidade de pesquisar variados assuntos. Só para dar uma ideia da importância desse acervo, uma das primeiras teses defendidas na Universidade de São Paulo para a pós-graduação no Departamento de Música da ECA  teve como ponto de apoio o material da Discoteca Oneyda Alvarenga.

De início, a Discoteca deveria favorecer os músicos no conhecimento de obras importantes, através de suas irradiações, depois transformadas em Concertos Públicos de Discos. E fornecer material de caráter folclórico, para conhecimento dos compositores, que poderiam assim criar uma escola nacionalista, o que em grande parte aconteceu. Quantas outras pesquisas se poderiam fazer a partir desse maravilhoso acervo? Quantos outros livros poderiam ser escritos? O número é, certamente, muito grande. Mas a importância da Cultura é imensurável...