segunda-feira, 28 de julho de 2014

DA BELLE-ÉPOQUE AOS NOSSOS DIAS, COMPOSITORAS AINDA LEMBRADAS



Nascidas na mesma época, mas em países e continentes diferentes, a estadunidense Carrie Jacobs-Bond (1862-1946); a francesa Helen Guy (1858-1936), que com o pseudônimo Guy d’Hardelot trouxe a público suas composições, e a inglesa Amy Woodforde-Finden (1860-1919), compuseram canções que ainda hoje são ouvidas e apreciadas.

Tiveram histórias pessoais muito diferentes: Carrie Jacobs-Bond começou a publicar suas obras em 1894, e quando morreu o segundo marido, criou uma editora e passou a se dedicar à vida artística. O barítono David Bispham realizou em 1901 um recital só de obras dela, e no mesmo ano seu grande sucesso, I Love you truly, vendeu cerca de um milhão de cópias da partitura. Em 1910, A perfect Day vendeu oito milhões de cópias da partitura e cerca de cinco milhões de gravações. Lembremos que, mesmo nos Estados Unidos, a indústria fonográfica ainda estava começando nessa época.

Helen Guy é ainda hoje mais conhecida como Guy d’Hardelot – Hardelot era o nome do castelo onde nasceu, na França. Aos 15 anos foi para Paris, onde estudou música e, antes dos vinte anos, começou a fazer sucesso com a canção Sans toi, com texto de Victor Hugo. Entre os intérpretes que lançaram suas canções estão a australiana Nellie Melba, soprano (1861-1931), o barítono francês Victor Maurel (1848-1923) e o baixo francês Pol Plançon (1854-1914). Com a famosa Emma Calvé, soprano francesa (1858-1942), atuou como pianista acompanhadora em recitais nos Estados Unidos. Casou-se com um inglês e foi morar em Londres, onde sua canção Because, com texto de Edward Teschemacher, de 1902, permaneceu por muito tempo nos programas de recitais.

Amy Woodforde-Finden, que nasceu no Chile, onde seu pai atuava no consulado inglês, começou a compor muito cedo, mas suas primeiras obras passaram despercebidas.  Em 1893 casou-se com um médico-coronel inglês, e, morando na Índia, escreveu em 1902 Four Indian Love Lyrics, com texto de Laurence Hope (pseudônimo de Adela Florence Nicholson, 1865-1904). Novamente não teve sucesso e ela mesma as editou. Mas, apresentadas pelo cantor Hamilton Earle, estas canções obtiveram grande sucesso e foram publicadas pela Boosey & Co. Compôs ainda outras canções, muitas relembrando seus tempos no Chile, mas seu maior sucesso foi sempre Kashmiri Love Song, ou Pale hands I Love, como também é conhecida, nr. 3 do ciclo mencionado.

I Love you truly, de Carrie Jacobs-Bond, pode ser ouvida no YouTube por pelo menos 15 diferentes intérpretes, de diferentes épocas. Aparece também em dois diferentes filmes recentes, como Out of the wedding, de 2007, e o famoso Titanic, neste cantada por Elsie Baker em gravação de 1912, ano em que ocorre o naufrágio. Nelson Eddy, famoso barítono americano, estudou canto com David Bispham, que lançou esta canção. Eddy a interpreta em duo tanto com Jeanette MacDonald, sua parceira mais frequente, como com Jo Stafford.
Because, de Guy d’Hardelot, aparece no YouTube em 20 gravações, cantada em inglês, francês, sueco e espanhol, e ainda em solo de piano por Phillip  Sear. Enrico Caruso, Mario Lanza, novamente Nelson Eddy, Kathryn Grayson, e os atuais Jose Carreras e Andrea Bocelli, todos podem ser ouvidos em diferentes interpretações e em seus variados timbres. Perry Como, em gravação de 1947, canta de forma não operística e teatral, mas como se canta a música popular.

Kashmiri Love Song, de Amy Woodforde-Finden, também é prestigiada por vinte gravações, algumas bem recentes. De forma instrumental, Stephen Hough interpreta a versão pianística da própria autora; Carmen Dragon rege a Capitol Symphonic Orchestra, e Julian Lloyd Weber e John Lanehan a tocam ao violoncelo acompanhado de piano. Ela é cantada em inglês por Rodolpho Valentino, mito do cinema, em gravação de 1923. Às vezes os cantores são acompanhados por piano, e às vezes por orquestra. Nelson Eddy e Peter Dawson cantam as quatro canções do ciclo, não apenas a mais famosa.

As três compositoras são contemporâneas de Chiquinha Gonzaga (1847-1935). Note-se que algumas das peças de Chiquinha que ainda permanecem no repertório são mais ou menos da mesma época. Com exceção da marcha Ô abre-alas, que é carnavalesca, ou o batuque Corta-Jaca, música de dança de influência africana, muitas de suas obras que ainda são relembradas apresentam o mesmo caráter, sentimental e dramático, daquelas canções. Por exemplo, Lua Branca. Influência, talvez, um pouco da ópera e muito da opereta, gêneros muito cultivados no decurso da vida de todas estas compositoras. 

Entretanto, só Chiquinha Gonzaga atuou, no decorrer de grande parte de sua vida profissional, diretamente no teatro musicado. Mas as outras três viviam em situação familiar bem mais confortável, e em países onde a atividade de compositor é remunerada, reconhecida e prestigiada em sua própria terra, antes de ser levada para outros países.

Um comentário:

Pedrita disse...

que bela pesquisa, vou procurar essas canções para conhecer no youtube. vergonhosamente não conhecia essas compositoras. obrigada por me apresentá-las. beijos, pedrita