Neste mês de março de 2013, em que vejo e sinto com alegria
o reconhecimento de tantas mulheres compositoras, brasileiras ou estrangeiras,
clássicas ou populares, creio que devo dar notícia da importância que a
Discoteca Oneyda Alvarenga teve em minha pesquisa sobre esse tema.
Essa pesquisa, que teve como resultado a edição do livro
MULHERES COMPOSITORAS – ELENCO E REPERTÓRIO, escrito por mim e publicado em
1987 pelo convênio Roswitha Kempf Editores / Instituto Nacional do Livro, foi
inteiramente realizada com o material da Discoteca Pública Municipal, nome que
a entidade teve até 1975. Livros, discos, partituras, catálogos de autores e
periódicos da Discoteca foram utilizados, e ainda contatos e catálogos de
autores de outras entidades congêneres.
A Discoteca Pública Municipal foi criada em maio de 1935 por
Mario de Andrade, para servir de subsídio para uma Rádio-Escola que não foi
implantada, e na qual os concertos irradiados seriam acompanhados de
comentários. Ela teve aceitação geral da população que, nessa época, apenas
começava a vivenciar a experiência de ter acesso às gravações e à radiofonia. Integrada em um sistema mais
amplo, que constituía o Departamento de Cultura, a Discoteca foi mantida, enquanto
as outras seções, que trabalhavam da mesma maneira articulada, foram sendo
pouco a pouco minadas e terminaram por desaparecer.
Foi pelo selo da Discoteca que, na década de quarenta,
muitos autores hoje consagrados tiveram oportunidade de ver suas obras
gravadas. E as compositoras não foram excluídas: Clorinda Rosato e Dinorá de
Carvalho foram gravadas por Arnaldo
Estrella; ambas receberam prêmios em concursos musicais organizados pelo
Departamento e depois suas obras foram levadas a público no Teatro Municipal,
principalmente pelo Coral Paulistano. Helza Cameu foi premiada com seu Quarteto
de Cordas, que foi estreado pelo Quarteto de Cordas Municipal...
O mais importante, entretanto, é ver, no meio de todo este
material de natureza diferente, uma unidade de pensamento que Mario de Andrade e Oneyda Alvarenga
tiveram, buscando de todas as maneiras dar subsídios a quem quisesse se
aprofundar em um tema dentro do assunto música. Assim como eu mesma tive a
oportunidade de levantar um grande elenco de compositoras de diversas
nacionalidades, tanto eruditas quanto populares, ou de salão, ou de obras
didáticas,e um repertório composto por elas, de mais de cinco mil abonamentos,
muitas outras pessoas também tiveram oportunidade de pesquisar variados
assuntos. Só para dar uma ideia da importância desse acervo, uma das primeiras
teses defendidas na Universidade de São Paulo para a pós-graduação no
Departamento de Música da ECA teve como
ponto de apoio o material da Discoteca Oneyda Alvarenga.
De início, a Discoteca deveria favorecer os músicos no
conhecimento de obras importantes, através de suas irradiações, depois
transformadas em Concertos Públicos de Discos. E fornecer material de caráter
folclórico, para conhecimento dos compositores, que poderiam assim criar uma
escola nacionalista, o que em grande parte aconteceu. Quantas outras pesquisas
se poderiam fazer a partir desse maravilhoso acervo? Quantos outros livros
poderiam ser escritos? O número é, certamente, muito grande. Mas a importância
da Cultura é imensurável...