TOSHIKO AKIYOSHI, COMPOSITORA DE JAZZ E ATIVISTA DE CAUSAS AMBIENTAIS
O desastre ambiental de Mariana,
em Minas Gerais, completou três anos em 2019. A seguir um outro, semelhante, e
ainda de maiores proporções, assolou o mesmo Estado do Brasil. Agora é, portanto,
importante e oportuno relembrar um desastre ambiental, de 1953, que abalou o
Japão, e a maneira como ele se tornou inesquecível através da música.
A compositora Toshiko Akiyoshi nasceu
em 1929. Estudou no Japão e na Berklee College of Music, em Boston. Depois de se
apresentar em orquestras sinfônicas como solista de piano, Toshiko se
encaminhou para o terreno do jazz e nele obteve grande sucesso. Casou-se em
1959 com Charles Mariano, saxofonista, com quem teve a filha Michiru, e formou
o Quarteto Toshiko-Mariano. Divorciada, formou com o segundo marido a Toshiko
Akiyoshi-Lew Tabackin Big Band. Sempre muito elogiada, atuou como jazzista
desde 1952. Tocou com Charles Mingus, compôs trilha sonora para o filme sueco The
Platform 1964 e no mesmo ano participou do World Jazz Festival,
apresentando a batida 5/4 ao piano. Teve seu mérito reconhecido em 1984, por
exemplo, ao ganhar o Ten Women of the Year (data não identificada) e o prêmio
Down Beat como arranjadora e compositora de Big Band4. Esteve no Brasil nesse
mesmo ano.
No decurso de sua vida, a
pianista e compositora se destacou, indiretamente, mas com muita força, como
ativista. O primeiro vinil da Toshiko Akiyoshi-Lew Tabackin Big Band foi Kogun,
lançado primeiro no Japão e depois nos Estados Unidos. É dedicado ao soldado
japonês encontrado numa ilha do Pacífico, escondido nas selvas, depois do fim
da 2ª Guerra Mundial. Este LP tem como faixa-título Kogun, que significa
‘aquele que luta sozinho’, conforme nos esclarece Luiz Orlando Carneiro, em seu
livro Elas Também Tocam Jazz. A trilha
de Kogun mistura sons japoneses arcaicos com sons jazzísticos. Esse
soldado – personagem do filme, em solidão absoluta, se manteve de prontidão para
continuar a lutar. Aqui a compositora relembra a fidelidade do povo japonês à
pátria e ao Imperador, não aceitando o resultado final da 2ª Guerra.
Em 1999, Kyudo Nakagawa, monge
budista, pediu a ela que escrevesse uma peça sobre Hiroshima. Para que
conhecesse de perto o que foi esse acontecimento, enviou-lhe fotos sobre o
pós-lançamento da bomba nuclear. Ela ficou horrorizada. E manteve esse estado
de puro terror até o momento em que viu, em uma foto, uma jovem que saía, de um
abrigo subterrâneo, com um sorriso. E compreendeu o que significou aquele sorriso,
para a jovem, em 1945, e para ela, 54 anos depois: uma mensagem de esperança. E
assim surgiu Hiroshima: Rising from the Abyss (Hiroshima: levantando-se
do abismo). A música estreou em Hiroshima em 6 de agosto de 2001, 56º
aniversário do lançamento da bomba na cidade japonesa, que marcou o fim da 2ª Guerra
Mundial. O álbum Hiroshima: Rising from the Abyss foi lançado em 2002.
Já a Suíte Minamata, que
dura 21’ 37”, é gravação do LP Insights, de 1976. Esta obra lembra – e
não nos deixa esquecer – o desastre ambiental ocorrido numa pequena aldeia de
pescadores do Japão, em 1953. Devido ao lançamento de mercúrio no mar, desde a
fundação da fábrica Minamata, nos anos trinta, os peixes foram ficando
envenenados e transmitiram esse envenenamento às pessoas e animais que os ingeriam.
A Suíte Minamata tem três partes: Peaceful Village, Prosperity &
Consequence, Epilogue. A peça começa com um vocalise feito por Michiru Mariano,
filha da compositora. Depois do brilhantismo dos sopros da Big Band, os Suzumi,
tambores rituais do Japão, são integrados a efeitos vocais de um artista Nô,
Hisao Kanze. A voz do artista se soma a séries de acordes produzidos pela
orquestra e finalizam a suíte com intensa dramaticidade.
Entre os vários dicionários de
compositoras surgidos a partir dos anos oitenta, dois incluíram o nome desta
pianista e compositora: International Encyclopedia of Women Composers,
do sul-africano Aaron Cohen (1981), e Mulheres Compositoras – Elenco e
Repertório (1987), de minha autoria. O perfil dos dois livros se assemelha um
pouco, na medida em que ambos extrapolam o campo erudito e didático, que são os
únicos nos demais livros, e informam sobre compositoras de outros gêneros
musicais. Neste caso, o jazz.
Em dezembro deste ano, 2019,
Toshiko Akiyoshi completará noventa anos.
Mais informações sobre a pianista,
arranjadora e compositora ativista Toshiko Akiyoshi, sua carreira, discografia
e prêmios podem ser encontradas em https://wikipedia.org/wiki/ToshikoAkiyoshi
Quanto ao desastre ambiental, procure
Minamata - nome do próprio local, ou Doença dos Gatos Dançantes (animais com
desordens neurológicas causadas pelo mercúrio), e Mal de Minamata.
OS DESASTRES AMBIENTAIS E AS
SEQÜELAS QUE GERAM JAMAIS DEVEM SER ESQUECIDOS